sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Na terra seca
a vida luta
pra sair da rachadura
do chão.

as cinzas espalham maus presságios.

arme a cadeira
ponha baldes
bacias
canecos
pra fora e espera.

a chuva ou a morte
quem vier primeiro.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

me sinto tão imensa
presa num corpo pequenino
e sem saber se por destino
sou alma em expansão.

tamanha desmensura
desperta desatino 
mas sem medo da loucura
me teço toda de emoção.

o que vai ser adiante
se define a cada instante
por isso ando conforme sinto.
a vida se faz pelo caminho
e esse corpo itinerante
se colore enquanto pinto.








quarta-feira, 1 de outubro de 2014

como na história de Saramago,
em dia comum, sem qualquer antecedente trágico
a cegueira veio até mim.

primeiro o clarão desconcertante
a perda irreparável
de chão.

depois a decisão de viver
tomada diariamente, ainda em jejum.
a vida perturbadora num lugar onde a visão privilegiada é a dos olhos.

Em ato de resistência lanço-me para além das fronteiras dos fatos.
a descoberta dos minúsculos poros da pele,
do cheiro de comida pronta ao meio-dia em ponto no terceiro andar,
da vibração da voz de Louis Armstrong
do abraço nu.

é mergulhar por inteiro no oceano do mundo.


aos inspiradores filmes 'Blind', 'Cegos, Surdos e Loucos' e 'Hoje eu quero voltar sozinho', contribuições para a minha cegueira.