quinta-feira, 24 de novembro de 2011

de surpresa, o vento levou a carta.
te levou.
ainda te via. perto, mas onde minhas mãos já não alcançavam.

seria um sinal do vento fazer aquele quatro de espadas escapar?
relutei em te trazer pra junto de mim.
talvez fosse a hora de deixar o vento levar tudo embora
você, a carta, as lembranças.
ainda assim levantei e te guardei dentro das páginas de uma história. da minha história, talvez.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

quando você chegou todos os meus problemas sumiram e você se tornou o único.

passo o ponto

Nunca tinha pensado em vender livros. Acho que de tanto viver para eles, acabou por viver deles também. Era com os livros que matava sua fome, do estômago e da fantasia.
Agora eles estavam ali, bem na sua frente, espalhados pelo chão da rua entre os passos dos transeuntes. Não eram mais seus, mas não conseguia afastar-se deles assim tão bruscamente. Como uma mãe que abandona um filho por não ter condições de criá-lo, se acomodou em um canto da lanchonete ao lado e ficou a olhá-los de longe. Algumas pessoas paravam, remexiam um pouco, duvidavam do que viam. Não estavam acostumadas a poder levar livros para casa sem ter que pagar por eles. Que maldição o dinheiro!
Por tanto tempo tivera aquele espaço para vendê-los e nunca as pessoas haviam se interessado tanto pela grande coleção que tinha reunido ali. Existia uma barreira toda construída em cédulas e moedas das mais diversas cores e tamanhos que impediam os possíveis leitores de entrarem em uma outra dimensão, onde era possível encontrar respostas para muitas questões ou simplesmente perder-se nelas. Era com um misto de felicidade e melancolia que assistia aquele espetáculo mórbido. Podia passar o dia todo ali, mas tempo é dinheiro (novamente ele)! No dia seguinte, desviou seu caminho para visitar de longe seus livros novamente, mas ao chegar tudo que viu foi uma calçada vazia e a imensa e incômoda placa: passo o ponto.