sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

"É assim", ando dizendo pra mim.
ando dizendo pouco
canto mais
olho mais
e meu ouvido
só anda agudo
pro que não é palavra

encaracolizei

me arrasto sem pressa pelo centro
deixando um rastro de gosma por onde passo.
me esquivo com destreza
e gozo os discretos prazeres da invisibilidade.
passo como alma penada
pela multidão chacoalhada
já em clima de carnaval.

os últimos dias tem sido cinza
de exuberantes nuvens negras no céu
cada sinal do arredor indica tempestade
a chuva
na verdade
já cai tem tempo
em terras mais inóspitas

tormenta
troveja
lava
sobe cheiro de mata molhada

me rega
me alaga
me foram todos os versos nessa enchente.
como nascem, sem luz, os escritos?

solidão não tem rima
ser só é natureza de prosa
é arte em cores nos muros de concreto da cidade.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

me vi só

e desse ângulo

até que gosto mais de mim.

nunca fui de fazer tipo

hoje,

mesmo com muitas dúvidas,

dispenso teu penar.

pra mim já basta o meu.

você tem tua vida pra se preocupar

e eu procuro me despreocupar da vida.

te esperava em pequenos regalos

estalos

surpresas.

nunca me surpreendeu. 

choro riachos

e quando estou feliz, eu choro.

hoje escuto rap

eu sinto rap

leio notícias

me contorço de injustiças

mirabolo planos porque cansei de viver o real

o utópico é o mínimo

comida na mesa

cerveja

e samba de roda


um mosaico sensível

esperando ser talhado

sua passividade

me encaracoliza 

solto gosma pelo caminho.