domingo, 10 de maio de 2015

Não sou mulher de duas cabeças
uma já me pesa bastante.
Estar aqui e lá no mesmo instante ...
de que me adianta o corpo errante
vivo
se ainda me cerco dos mesmos fantasmas?

Os medos estão saindo
aos poucos
pela garganta
embora ainda não saibam ao certo
o que fazer
com tamanha liberdade.

Sou mulher de dois ouvidos
boca
e sentidos
que aos poucos acertam seu compasso.
não se atropelam, nem se calam
tem tempo abriu-se um buraco ...

o abismo dentro de mim
tem mesmo tempo de rio
fase de transbordar
e fase de completo vazio
estações a que não me acostumo.

um tanto de verso que escoa
um tanto de verso sem rumo
o mundo é de tanto caminho
que não me alinho
e minha voz
fica
muitas vezes
vagando
perdida nos cantos esquecidos.
aos conselhos amigos, sou toda ouvidos!

ainda tão pequena
de incertezas plenas
aprendi a confiar no amor.




segunda-feira, 23 de março de 2015

eu
a essa hora da vida
me percebi do avesso 
numa falta de fé imbricada na bruxaria que me exalava dos poros. 
aí veio o carnaval
o povo todo na rua
de esquina em esquina
armando encontros sobrenaturais.

aí o diabo me apareceu
na derradeira terça-feira
e como quem vem testar minha confiança no cosmos
se entregou a mim sem máscaras. 
e eu
sabida de intuições
também me despi das minhas.

cada beijo me arrepiava a espinha!

suas mãos abriam o horizonte do meu corpo
seu coração,
de imensas proporções,
expandia minhas fonteiras
estava entregue inteira
até a surpresa de ter que partir. 

eu, que finalmente entendera
a importância de não esperar,
fui arrebatada pelo inesperado. 

muda,
senti de tudo
ainda não sei distinguir.
sei que senti amor. 
e que ainda sinto. 
sei que senti saudade. 
e que ainda vou sentir.

há dias quebro a cabeça pra te regalar com parcos versos.
tentei te escrever bonito, mas não saiu. 
tentei te cantar o mais belo canto de passarinho, mas ninguém ouviu. 
tentei colocar tudo o que sinto em rimas, mas nem a prosa permitiu.

é cedo.

nada sei do adiante
mas confio em nossos passos
se cruzando em outro instante.









quarta-feira, 4 de março de 2015


é longe das portas automáticas
trancas claustrofóbicas
paredes estáticas
rotinas asmáticas
que se encontra a rua
nua
crua
a verdade dos fatos
em confetes e farrapos
bem diferente da tv a cabo.

atravesso

e nos encontros inimagináveis
em cada esquina
converso.

minutos de fôlego
que nos salvam do afogamento
neste mar imenso
de invisibilidade.

passo por avenidas
túneis e viadutos
e escuto
a voz que vem dos muros
em cinza ou em cores
os prazeres e as dores
de quem vive num nível mais profundo
do que é estar no mundo.

na rua
os salvadores
conhecem o peso de suas cruzes
mas nunca as carregam sozinhos
o choque dos corpos
é a vida em erupção
plena de potência e desconstrução
para abrir novos caminhos.





sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

"É assim", ando dizendo pra mim.
ando dizendo pouco
canto mais
olho mais
e meu ouvido
só anda agudo
pro que não é palavra

encaracolizei

me arrasto sem pressa pelo centro
deixando um rastro de gosma por onde passo.
me esquivo com destreza
e gozo os discretos prazeres da invisibilidade.
passo como alma penada
pela multidão chacoalhada
já em clima de carnaval.

os últimos dias tem sido cinza
de exuberantes nuvens negras no céu
cada sinal do arredor indica tempestade
a chuva
na verdade
já cai tem tempo
em terras mais inóspitas

tormenta
troveja
lava
sobe cheiro de mata molhada

me rega
me alaga
me foram todos os versos nessa enchente.
como nascem, sem luz, os escritos?

solidão não tem rima
ser só é natureza de prosa
é arte em cores nos muros de concreto da cidade.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

me vi só

e desse ângulo

até que gosto mais de mim.

nunca fui de fazer tipo

hoje,

mesmo com muitas dúvidas,

dispenso teu penar.

pra mim já basta o meu.

você tem tua vida pra se preocupar

e eu procuro me despreocupar da vida.

te esperava em pequenos regalos

estalos

surpresas.

nunca me surpreendeu. 

choro riachos

e quando estou feliz, eu choro.

hoje escuto rap

eu sinto rap

leio notícias

me contorço de injustiças

mirabolo planos porque cansei de viver o real

o utópico é o mínimo

comida na mesa

cerveja

e samba de roda


um mosaico sensível

esperando ser talhado

sua passividade

me encaracoliza 

solto gosma pelo caminho.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

apesar de me perder
não me pergunte como cheguei.
um sussurro
um assobio
um arrepio
um vendaval.
fui levada pela corrente da chuva que se abatia sobre a vizinhança.
as crianças dançavam, cantavam
enchiam suas cumbucas.
suas vovós chegavam na janela
arrumavam os vasinhos de flor para que recebessem um pouco d'água
e elas mesmas,
flores em sua essência,
deixavam que o vento úmido refrescasse o rosto.
um sorriso tranquilo observava os netos
e a cabeça lá bem longe,
em visita aos dias de festa no sertão.
a festa da chuva, celebração da vida!
tão difícil
mas vista de agora assim
com olhos de saudade
aparecia até bem florida.
a vida
uma bonita flor de cactos.
as folhas das árvores e seus espelhos orvalhados
o agito dos pássaros
torre de babel de cantos.
era um dia esperado, confuso
um dia fora do tempo.
a chuva fez mais que refrescar esse dia ...
mexeu mesmo com a alma.
teve perna bamba
cabeça nos ares
braços pro alto
e pés
bem fincados na terra
se assentando no barro.
fui escorrendo
lamacenta
pelos passeios já inundados
passei por estradas
inusitadas
encantadas
riachões
a mata é um universo
de caboclos camuflados
a comunhão dos seres
extingue suas fronteiras
são os orixás
as forças mesmas da natureza.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

algumas notas mentais
de uma memória curta.

pensando em como é a vida das pessoas fora da internet. 

um caderninho, preciso comprar, tem feito falta. perdi o caderninho verde. 

o céu rosa do jacaré no final do dia. a atmosfera do bairro no final do dia. 
que alegria esse lugar, um caso de amor.