sábado, 21 de dezembro de 2013

ressaca

o corpo em vazante
fraco, opaco, um caco.
de mente errante
vaga por caminhos nebulosos
não enxerga bem à distância
tampouco pode ver de perto
entregue apenas à espera
de tempos mais úmidos.

domingo, 24 de novembro de 2013

eu queria tentar um dia
eu e tu
lado a lado
pra ver como seria.

bem de pertinho
de carne e osso
ia ver eterna poesia
virar carne de pescoço.

mas também ia ter amor
e abraço
e descompasso
e cansaço
vontade de sumir sozinho
no tempo e no espaço.

e mais amor
brisa macia
cheiro de flor
melancolia

ia ver saudade
virar homem.
 


o mundo é pesado, bro
quem é que aguenta
a tortura, a tormenta
a mão que senta
na cara
cheia de ódio
no trabalho ou no rolê
por que você?
vai na praia fazer o corre e ver o mar
vendo os playboy e as mina
de pouca roupa
marcando touca
cheio de grana na bolsa
e por que não?
nós aqui suado, sem nenhum tostão
querendo um tênis novo ou fumar um do bom
o primeiro chegou discreto
metendo a mão, passando reto
depois juntou dois, três, quatro
tanto preto assim, no Leblon, é assalto!
corre pro lado, pro outro
levanta areia
e gritaria
em pleno feriado, ao meio dia.
chegaram os hômi
a cabeça frita
os parcero some
a playboyzada grita
numa bandada
é derrubado, espancado, humilhado, assassinado
na praia ou na esquina
da Ataulfo de Paiva com Aristides Espinola.
os aplausos pra eficácia do PM que chega
tiro certeiro.
no dia da consciência negra,
mais um pouco de navio negreiro.



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

vim pra casa da desaparição das palavras que vivem aqui há milênios, quando todo o espaço, nos deixando bem mais assustados do que maravilhados, matando outros os sentidos sejam a vida descendo goela abaixo.

domingo, 17 de novembro de 2013

a chuva chora um mundo dentro de mim.

anuncia o fim da estação.

em natureza circular

fins e começos se encontram no mesmo lugar.






domingo, 20 de outubro de 2013

ouvido por uma moça na tijuca há uns dias atrás, em um dia de chuva. sorria e falou alto pra quem quisesse ouvir:

"a chuva não incomoda não, a chuva é doce"

sábado, 19 de outubro de 2013

pequeno poema infame sobre casas de suco e confusões de gênero e sexualidade

vitamina de banana
vi tua mina de banana
e fiquei sem saber se era ou não era fruta.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

são tempos secos esses, rapaz!
estiagem de palavra.
dá nem prosinha, mirradinha que fosse.
os versos tão tudo verde. do suculento mesmo, só adiante, quando madurar.
ainda num aprendi a contar o tempo fora do relógio.
o tempo do rio é um, do menino pequeno outro, das ararinhas-azuis um terceiro um tanto diferente.
o dos versos então ...
o homem de chapéu e paletó me ensinou a juntar tudo no relógio: ponteiro-ponto-traço.
quero desaprender!
só assim posso nadar no rio, brincar com o menino e voar com as ararinhas-azuis.
e, enfim, escrever poemas.



quinta-feira, 18 de julho de 2013


os clichês estão a solta

por toda parte

na boca do povo.

aí vem alguém e centraliza eles

dá uma cara pra eles

pega tudo, coloca num livro, publica.

e é aclamado pela multidão:

"fala tudo o que eu queria dizer e não sabia como".

já dizia e nem sabia.

de um jeito mais bonito até

muito mais bonito do que best seller

e mais gratuito.

terça-feira, 16 de julho de 2013

por que escrever direito
se esquerdo é sempre melhor?

As línguas latinas sofrem.

basta pouca atenção para sentir seu fardo, sua dor.

E como línguas latinas

beijam

transcendem a fronteira dos corpos

(ins)piram amantes inveterados.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

palavraria

(ins)pirada.

espássaro

poesia de rua


o mundo tá brabo, vou te contar.
não sei se paro ou se piro.
cem reais no mercado,
sem reais na carteira.
como come?
e o transporte a hora da morte!
como anda?
melhor parar o trânsito do que parar no trânsito.
junta geral, pinta cartaz, levanta bandeira
e ainda tem gente achando que é pra tudo se acabar na quarta-feira.
pera lá, somos muitos mil na rua e não é carnaval
mas o que não falta é folião perdido nesse bloco
e gente querendo dar enredo pr'esse samba.
contra a remoção,
o 'caveirão',
e a corrupção (?)
hino nacional é só sucesso.
queremos ordem e progresso?
e a Globo mais uma vez cobrindo a festa da democracia brasileira
mas sem partido e sem bandeira.
bandeira só se for verde e amarela,
vermelho oportunista tem é que correr de neonazista!
queremos garantir um movimento pacífico!
mas gritos de "sem violência" não comovem a PM
não cortam efeito de gases
não param balas de borracha.
ah, vai tudo pra conta dos vândalos, relaxa.
infelizmente o efeito não é só moral
brasileiro e baderneiro, no meio da fumaça, é tudo igual.
só preto, pobre e favelado tem exclusividade
na Maré a bala é de verdade.
no meio de todo esse caos
sinto falta de soneto e calmaria
mas sei que meu lugar é na rua
assim como o da poesia.
e não é de todo mal como parece,
ainda que pra alguns soe otimista,
no fundo do peito ainda acredito
na luta por um mundo comunista.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

porto inseguro

abrigo dos sofrimentos já conhecidos
das incertezas velhas de guerra
onde vive o amor que não vacila
mesmo que mude de cara, de tara, de cidade.

cambiante, mas da confusão semelhante
que ainda mexe por vezes com a sanidade da gente.
a gente que anseia pelo mar imenso
pelo contra-senso
por nova corrente.

não era isso que queria
na mais profunda fantasia
se deleitar com o coração em pulso
na mão, na boca?
mas por vezes rouca
o medo não faz o amor expulso,
através da garganta, em grito apaixonado.
oscila entre o mar e o porto, um pouco de risco, um pouco de conforto
de porto inseguro já mapeado.















sábado, 18 de maio de 2013

Debruçada no parapeito da janela acompanho seus passos ainda próximos do portão. Aguardo o momento em que voltas seus olhos para cima e encontra meu sorriso que já quase não se sustenta mais. Enquanto te movimentas para retornar ao teu caminho, minha boca vai ficando disforme e meus olhos pesados de lágrimas. Não quero que me vejas chorar. Se seguem dias de melancolia. Nunca entendi como em tantas despedidas consegui conter meu ímpeto desesperado de correr atrás de ti e não te deixar se afastar nem mais um passo de mim. Talvez porque tenhamos medo do que seria de nós se tu não fosses embora. Conforta-me mais o medo de que não retornes.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

não quero que se vá
mesmo que já tenha ido.
não se perca dos meus sentidos,
ainda que embaralhe a mente 
o corpo consente.

quero me ver livre de você,
quero me ver livre com você.


abismo: a insustentável leveza do salto no vazio.
minhas unhas cravam a pedra de desespero
enquanto as pernas pendem seduzidas acima do mundo.

por quantos caminhos mais passaremos até chegar à porta?

terça-feira, 26 de março de 2013

me chame de novo praquele samba
dessa vez eu vou!
naquele dia tinha dentista
naquele outro faltou dinheiro
mas não desista
que dessa vez
não há canal ou fim de mês
que me afaste do pandeiro.

senti que a roda sentiu minha falta
sorriu gostoso quando cheguei
mas que saudade daquele asfalto
da noite quente, do canto alto
sorri de volta e me aconcheguei.

se ela soubesse dos tantos sambas que cantei sozinha
desejando ainda que uma só notinha
fizesse a bondade de me acompanhar
saberia então que esse coração
feito em mil pedaços na solidão
só se faz inteiro nesse lugar.

quinta-feira, 14 de março de 2013

sentados na sala da casa aqui de niterói eu e meus pais conversamos.
até que surge um senhor, magro, moreno de camisa azul escura e bigode e cabelos grisalhos.
falo do senhor com eles mas eles não conseguem vê-lo, começo a ficar nervosa porque só eu o vejo.
o senhor desaparece e aparece uma senhora gorda, de cabelos brancos, óculos com um vestido florido sentada na poltrona. nada. ninguém a vê também. a agonia só aumenta.
eis que minha vó surge na sala, senta na poltrona e começa a reclamar com a velha, mandando ela chegar pra lá e dizendo que ela ocupa muito espaço.
começo a gargalhar e a abraçar minha vó, feliz porque ela, assim como eu, vemos a velha.

um pouco antes no sonho enquanto aguardo um resultado de um exame que não sei nem se enviei todos ficam tentando me colocar numa maca, dizendo que não sinto minhas pernas, quando sinto apenas algumas dores de cabeça.

entre um sonho e outro ou não sei bem em que momento da noite, gustavinho aparece pra mim também com uma camisa azul marinho, mas com uma cara meio assustadora, que não era a dele.
sentada à porta da casa, do lado de dentro, no meio da ladeira
a porta aberta te vejo passar de boné, sentido: descendo.
mistura de raiva e nervoso, saio pra falar contigo
fica meio sem graça, me beija, pega na minha mão e diz que vai me mostrar uma coisa incrível
começamos a subir a ladeira e passamos por um lugar que já passei em outro dia, outro sonho
o lugar de uma festa estranha e de temos andando por uma rua deserta fugindo não sei de que, mas isso não vem ao caso.
o lugar muda, subimos, já à noite e chegar em um espaço aberto que lembra o parque do chacrinha.
digo que já conheço e você me aponta um castelo/torre enorme lá em cima, no meio das nuvens que nunca tinha visto. como nunca reparei? fico maravilhada.
os olhares voltam pra baixo, pro parque e vemos uma cutia. algumas. parece meio brava com alguma coisa
decidimos descer as escadas e sair do parque.
você um pouco nervoso começa a andar, quase correr e o bicho a te perseguir
as escadas agora estão em um espaço fechado ainda a caminho da saída.
falo pra você se acalmar porque se continuar correndo os bichos vão correr atrás de você.
toma uma lanhada de uns gatos de rua que seguem o mesmo caminho que nós.
com você mais a frente, de uma hora pra outra aparece um garoto magro, sem camisa e começa a andar meio atrás meio do meu lado. fico um pouco apreensiva e te grito pra você me esperar.
umas duas vezes, até que você diminui o passo, se acalma um pouco e pega minha mão.
agora quem está nervosa sou eu, com medo, louca pra sair logo dali.
continuamos descendo e o menino anda ainda meio atrás meio do nosso lado.
quando finalmente a porta azul chega (lugar que também parece com outro sonho que já tive) abrimos pra sair e o menino tenta nos fechar lá dentro, mas conseguimos sair espremidos pela frestinha que tinha.
vamos caminhando pra casa e você diz que vai visitar Letícia, uma amiga sua.
e eu acordei.

quarta-feira, 13 de março de 2013

já pode sorrir, não brincamos mais de sério.
a brincadeira ficou séria e achei melhor parar por aqui.
só quero meio metro de corda pra dar pro meu papo furado.
uma gracinha pra lá, um duplo sentido pra cá.
cerveja e vestidinho curto em uma terça-feira despretensiosa.
aproveitar enquanto ainda é verão!
brincar de fingir que não sabe que vai beijar
e ir se encostando devagar, até que não dê mais pra prolongar
e nem queira mais.
aí beija, beija com boca, mão, olho, pescoço, nariz, orelha
gargalhando de tesão até a última centelha.





domingo, 10 de março de 2013

quando conheci Manoel ele era ainda criança
e desde então só foi desfazendo anos.
foi ficando cada vez menor, do tamanho das coisas de que ele tanto gosta.
daí foi um pulo para escutar como as pedrinhas jogadas no rio pelos outros meninos.
tô sempre tropeçando nele e sempre caindo de amores.

domingo, 3 de março de 2013

se o instintivo é o que cabe a todos
a poesia é a diversidade inscrita nos corpos.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

caminhou pra além da valsa dos ponteiros do tempo-espaço.
gastou sapatos e pés por áridos desertos sem nem um porquê pra aliviar um pouco a sede.
bambeado pela tonteira, afastou as nuvens dos olhos tentando desvendar a forma indecisa que se mostrava tímida à distância.
um poço, finalmente!
acordou as pernas e correu. tinha sede. uns passos adiante e viu poço virar pele morena, de meio-sorriso.
mais dois passos e poço de novo.
talvez era poço-morena.
ou talvez a morena era poço profundo demais,
que às vezes mata a sede e às vezes mata afogado.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

finalmente cai a chuva.
lembra a sensação de se acomodar à sombra nos dias castigados de sol.
tão bom achar uma árvore que empreste uma boa sombra
prum livro de fim de tarde, cochilo depois do almoço
ou se esconder um pouquinho no que sobrou de matinho em meio a tanto alvoroço.
refresca as memórias.
a sombra me entrega às amenidades
como quem cumpre função de tempo.