domingo, 31 de julho de 2011

amor meu, em curtas e grossas palavras, ou é inveja ou é carência.
e os insetos-humanos sempre pequenos, sempre perdidos.
seja na vastidão do mundo afora ou na imensidão de seu universo interior.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Você me aleijou, me tirou as pernas. Aos poucos foi arrancando cada pedacinho para que eu não corresse mais atrás de ti. Logo você que me presenteou com elas. Eu não soube aproveitá-las, corri demais. Quando corre demais escangalha. Se você também corresse e ficasse mais perto talvez evitasse tanto esforço em vão. Eu parei de cá, você não se moveu daí e agora te perdi de vista. Passou tanto tempo que às vezes fico pensando se você existe mesmo. Às vezes me esqueço do teu rosto, do teu jeito de mover as mãos enquanto fala e me vem um vazio. Como se todo aquele sentimento que eu cultivava em mim rompesse coração afora e se perdesse, sem encontrar o caminho certeiro para o seu e ficasse vagando pelo tempo. Deixou um rombo. Um poço profundo de onde nada se extrai. E tentar preenchê-lo é como tapar um buraco com areia em meio ao vento. Qualquer brisa e o espaço vazio se faz de novo presente. Às vezes sinto que transformo tudo em areia só pra deixar esse espaço, mesmo tendo aquela certeza no fundo de mim que diz que você não vai voltar. Não dá para voltar para onde nunca se esteve. Você não esteve aqui. Você não existe. 

terça-feira, 19 de julho de 2011

Essa mentira de perna curta cresceu ou colocou perna-de-pau. Cresceu junto com você.
Não é mais aquela descompromissada, sobre vasos quebrados ou notas vermelhas no boletim. Está correndo rápido, ganhando o mundo e quando vê, não tem mais volta.
Perdeu-se no ar. Espalhou-se por todo o canto e contagiou todos como uma epidemia.
Ela ganhou vida. Não vida própria, ela tomou a sua. Parasita. Só vive porque você a sustenta.
Dá-te prazer ou desespero ter essa sanguessuga nas entranhas?
Ela te deformou. E foi vagarosa e contundente ao apodrecer cada uma de suas relações.
Você vai se deteriorar até virar merda. E ela vai sobreviver, devorando as outras vidas que você contaminou com o que parecia apenas inofensivas palavras.  

terça-feira, 12 de julho de 2011

Aquelas folhas verdes me chamaram a atenção.
Quando passo, me fitam com saudosos olhos enrugados.
O verde ficou velho, meio amarelado pelo tempo.
O tempo corria na mesma velocidade da bicicleta rosa, tão miúda, que há muito tempo deixou de correr. Mas o tempo não parou. E engoliu não só as folhas da árvore, mas muitos pensamentos.
Alguns foram de mais fácil digestão. Outros, acho que ficarão ainda por um bom tempo circulando no sangue dos vasos que irrigam a mente.
Ó vasos, por que não me agraciam só com flores?
Por que não me lembro de anos inteiros e frações de segundo não me saem da cabeça?
Que peso tem as palavras e o insuperável ruído da comunicação.
Palavras de toneladas viram plumas ao chegar a outros ouvidos. Outras mais leves que o ar perfuram almas como meteoros na terra.
Me enlouquecem!
Se deixa a cabeça solta pode-se até mergulhar nas ondas sonoras que avançam levando cada pequena sílaba no seu embalo hipnótico e que chegam à beira da mente do outro. Mas mesmo com toda a destreza rítmica das ondas, se embaralham quando quebram em seu destino. E voltam desordenadas. Causando um vaivém eterno de incompreensão.
Ah, que torre de babel seria conviver se as ondas só carregassem palavras. 

domingo, 3 de julho de 2011

Labirinto de mim

Abri a porta da minha mente e descobri um labirinto. Entrei e agora não sei se algum dia vou conseguir sair. Sabia dessa possibilidade e ainda assim escolhi entrar. Um medo enorme me consome de ficar perdida para sempre, justamente por causa dos milhares de caminhos diferentes que não sei onde dão. Ao invés de pensar mais, tendo a seguir meus instintos e entrar no que sinto que é certo. Às vezes funciona, às vezes só me deixa mais perdida. Não sei se estou perto ou longe porque também não sei, na verdade, onde realmente quero chegar. Achava que dentro de mim era o lugar mais seguro onde poderia estar, mas acho que me enganei.

Metamorfose

Virou bicho. Andava pelo meio da mata e se achou tão pertencente a aquele lugar que, de repente, seus braços e pernas viraram patas. Ganhou asas. Ahh, as asas. De passarinho, de borboleta. “E os humanos se acham tão especiais!” – pensou. Pela primeira vez se viu em um mundo onde podia ver a existência caminhando livremente para fora do seu próprio eu e sendo compartilhada com os outros. Isso era feito por todos. Cada um dava a sua existência aos demais formando um enorme emaranhado de “eus”, onde eu já não mais existia. Todos se embrenhavam pelos nós. Nós era o que havia.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Realidade incorpórea.
Sombra por trás dos elementos da causa.
A sombra disforme, amórfica
Querer interpretar só deixa a sombra mais diferente dos elementos da causa.
Quero dormir para ver de novo, quem sabe com mais detalhes, mas nunca é igual.
Quero compartilhar, mas não dá para ver porque está tudo interligado pela minha engrenagem corpórea.
É ela que me leva até a realidade incorpórea da mente.
Mente é corpo e não é. É além.
Às vezes parece independente de mim.
É outro eu, com elementos do eu corpóreo totalmente recodificados.
Brinca com sorvetes, copos, jogos da memória, pessoas só para me confundir, me enlouquecer, me matar de curiosidade.
O que é você que está aí escondido dentro da minha cabeça?
Para onde você vai quando o corpo acaba?
A curiosidade da morte é sedutora.
Eu acredito no amor,
mas enquanto ele não vem
brinco de amar de mentirinha.
Invento sofrimento, empolgação
E até o bater do coração.
É um bom teatro
até que a cortina se fecha
e a roupa de amor de verdade cai pelo chão.
Sai a maquiagem,
o ator se confunde com o personagem,
me confunde.
Fico sem saber
o que é amor e o que é realidade.