quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

calor

quarta-feira

o tédio

a espera

o desejo da cerveja enquanto ainda é dia.

o moto-taxi

agarrado entre os joelhos

vento nos cabelos

centelha

centelho.



o viaduto

o centro de tudo

de dois mundos

de dois muros

de tijolo e zinco

o túnel.


a praça

o encontro

as mulheres

nós mulheres

a conversa

a cerveja enquanto ainda é dia

às mulheres!

às conversas!

aos encontros!

à praça sete!


o despedir do dia

o cair da noite

a conversa com amigos

e seus amigos

e desconhecidos

completos

repletos

abertos

ao papo.


a lona 

o samba

a marijuana

o bate-macumba


o pé arrastado

pescoço suado

o corpo todo solto

flutua nas ondas de som e calor

atravessado pelo atabaque. 


a noite 

pra mim

já estava ganha

mas ela veio pra brilhar.


subiu

devagar


a acompanhamos com o olhar

até que estivesse plena no céu.

e num murmúrio da roda

uma voz ecoa, desfila

hoje é aniversário de noel

o eterno poeta da vila. 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

andam meus melhores amigos
um gato ensandecido
os bêbados de olhar opaco
os transeuntes
em suas formas
sobressaltos
e esbarrões.
meu papo é com as conversas entrecortadas
que não se dirigem diretamente a mim
mas se dirigem.
sorrio para os cachorros na rua
os arrastados pelas correias
e os que cruzam, como eu,
sem guia pela cidade.
gosto das ruas movimentadas
mas também das de cortar caminho
pra silenciar um pouco.
ando bastante
ainda não estou preparada
pra parar.
a não ser pra tomar um pouco de ar
dar um mergulho no mar
ou tomar um lanche num bar
de esquina
que me permita por alguns minutos
descansar os pés
e saciar a fome
por não mais que dois merréis.
é verão
vai escurecendo lentamente
ainda atravesso a cidade de ônibus
bom que me despeço devagar como o dia.
agradeço aos desencontros
por me encontrar.


sábado, 29 de novembro de 2014

o dia em que descobri a poesia


o dia em que descobri a poesia
não foi longo nem curto
não foi calma nem surto
não tinha 24 horas
ou demoras
ou esperas ansiosas.

o dia em que descobri a poesia
não lembro ao certo
se estava claro ou escuro
se era presente, passado ou futuro
se era solidão ou tumulto.

o dia em que descobri a poesia
fez sol em mim.
acolheu
esquentou
ardeu
e alumiou.
nasci e me pus em tons de laranja.

o dia em que descobri a poesia
fiz amigos
nas mesas de bares dos livros
conversamos sobre tantos temas
em ritmos de poemas
viajamos por universos inteiros
em versos passageiros
e sem formalidades
combinamos assim
hoje é por minha conta
amanhã cê paga pra mim.

o dia em que descobri a poesia
ganhou vida
e é regado no meu jardim
bem junto das margaridas.



é quase dezembro
o calor me lembra aquelas férias
me refugio nas marquises
escassas
enquanto meus passos
se perdem
a caminho da estação

por uma viela estreita
desemboco no teu corpo
nu da cabeça aos pés
na mais pura ligação com o tudo mais

percorro sem pressa
teus becos
teus recantos escondidos
paraísos e infernos
perdidos

o cheiro doce
a barba espessa
os olhos de um amor melancólico
meu peito colado no seu.

palpitamos em sintonia.

em princípio um forró acalorado
axé suado
até o gozo abafado
no travesseiro

termina valsa
de despedida
de fim de festa
acabando de súbito
em embriaguez desmedida
com a doçura da seresta.

recordo em detalhes
o conforto dos teus braços
ao redor de mim.
adormeço acordada.

somos quentura gostosa
somos noite de verão

mas a dor evapora
quando o tempo é quente
e à certa hora
como já se sabe
não escapamos
da força da torrente.

meus olhos inundados
embaçados
não tenho mais volta.

o corpo cansado
envelhecido
sem sentido

sento no meio fio
e choro
choro
choro sem parar

deságuo nas curvas de um rio
que ainda não sei navegar.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Dia de trabalho
Exatos 60 minutos
Jacaré-Ipanema
Mangueira
Leopoldina
Providência
Tabajaras
Praia de Ipanema
Vinícius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto
Dum bairro que de preto
Só o vidro dos carros importados
O garçom
O segurança
E o menino magro
Pernas de caniço
Que mora em qualquer calçada
E cujo único sentimento que desperta é medo.
Prendam aqueles
De dentes ainda de leite
Antes que se tornem
Marginais definitivos
E venham de caninos e incisivos
Pra cima de nossas propriedades,
De nossa liberdade de expressão
de ódio
racial.
Vamos mantê-los invisíveis
Enquanto limpam nossas privadas
Servem nossa comida
Criam nossos filhos.
Sorriam, insolentes,
Mostrem os dentes!
E agradeçam o presente,
a escravidão,
Que nós, solidários e cristãos,
Oferecemos de coração.
Mudei-me
prum lugar mais amplo
arejado
Arejei-me.
Sem espaço nos caixotes
a vida deixou as frestas
desfila
agora
rastejante
pelo chão da sala de estar.
Faz fila com suas companheiras na cozinha
Canta na janela
E até mesmo a mosca
com seus estigmas
passeia nessa rima.
A vida não incomoda
mais
convivemos bem.
Itinerante
pelos seres miúdos
aparece pra mim
como convém.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Na terra seca
a vida luta
pra sair da rachadura
do chão.

as cinzas espalham maus presságios.

arme a cadeira
ponha baldes
bacias
canecos
pra fora e espera.

a chuva ou a morte
quem vier primeiro.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

me sinto tão imensa
presa num corpo pequenino
e sem saber se por destino
sou alma em expansão.

tamanha desmensura
desperta desatino 
mas sem medo da loucura
me teço toda de emoção.

o que vai ser adiante
se define a cada instante
por isso ando conforme sinto.
a vida se faz pelo caminho
e esse corpo itinerante
se colore enquanto pinto.








quarta-feira, 1 de outubro de 2014

como na história de Saramago,
em dia comum, sem qualquer antecedente trágico
a cegueira veio até mim.

primeiro o clarão desconcertante
a perda irreparável
de chão.

depois a decisão de viver
tomada diariamente, ainda em jejum.
a vida perturbadora num lugar onde a visão privilegiada é a dos olhos.

Em ato de resistência lanço-me para além das fronteiras dos fatos.
a descoberta dos minúsculos poros da pele,
do cheiro de comida pronta ao meio-dia em ponto no terceiro andar,
da vibração da voz de Louis Armstrong
do abraço nu.

é mergulhar por inteiro no oceano do mundo.


aos inspiradores filmes 'Blind', 'Cegos, Surdos e Loucos' e 'Hoje eu quero voltar sozinho', contribuições para a minha cegueira.

sábado, 27 de setembro de 2014

são cosme e damião

o ônibus faz a curva na praça da Cruz Vermelha e pára.
na fresta da porta, uma voz miúda pede pra entrar por trás. 
antes de abrir o motorista avisa: "podem entrar, mas se fizer bagunça pego os doces todos pra mim!"
vem um atrás do outro, um menor que o outro carregado de bananada, maria-mole, suspiro, pingo de leite, doce de abóbora, cocô de rato.
nem cabe na mão.
silêncio. 
passa um tempo, umas risadas, uns cochichos e vem ele
com um punhado de doce na mão esticada pela roleta. 
"ô, motorista!"
sorrindo pelo retrovisor o motorista: "quero só a bananada, só a bananada tá bom"

<3

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Abismar-se: lufada de aniquilamento que atinge o sujeito apaixonado por desespero ou por excesso 

de satisfação.


Por mágoa ou por felicidade, sinto às vezes vontade de me abismar.


Manhã (no campo) cinzenta e amena. Sofro (desconheço o motivo). Surge uma ideia de suicídio,

, desprovida de ressentimento (sem chantagem com ninguém); é uma ideia neutra; não rompe nada 

(não "quebra" nada); combina com a cor (com o silêncio, o abandono) dessa manhã.

Um outro dia, embaixo da chuva, esperamos os barco à beira de um lago; a mesma lufada de 

aniquilamento me atinge, dessa vez por felicidade. Assim, às vezes a infelicidade ou a alegria 

desabam sobre mim, sem nenhun tumulto posterior: nenhum outro sofrimento: estou dissolvido, e não 

em.pedaços; caio, escorro, derreto. Este pensamento levemente tocado, experimentado, tateado 

(como se tateia a água com o pé) pode voltar. Ele nada tem de solene. É exatamente a sensibilidade.

domingo, 31 de agosto de 2014

formigamento.
a pausa
o instante no correr do tempo
anuncia:

subindo e descendo
deslizando nos membros
do centro aos extremos
poesia.

me largo do vil, do bruto do mundo
e a leveza entra em cena

bailando solto
em ritmo todo
poema.


"desenha tuas formas em mim",
pede o papel em voz doce.
assim qualquer bicho amansa
e faz até pausa em andança
por uma noite que fosse.


domingo, 10 de agosto de 2014

noites mal dormidas
remexidas
na companhia dos vultos.

frases à solta no breu.

a boca, trocada
calou quando se pediu a fala
e derramou o inoportuno em palavras.
repetidamente.

a cabeça paga.

todos os irresolutos ao redor da beirada da cama
são pernilongos zumbindo na beirada do ouvido
aguardando impacientes
a resposta pro mundo ainda naquela noite
enquanto tento em vão me esconder nos travesseiros.

apelo pro cosmos:
leva embora o café depois das oito!
talvez dê jeito no meu coração afoito.


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

o buraco

a mão que cava em desespero

cava, cava, cava, cava, cava

a crosta preta das unhas

é grotesco
deprimente
delirante
e tudo o que desejo.

me afundo no infinito buraco do meu peito.
quem é você
que só vendo pra crer?
que fez dos olhos reis
de uma cegueira crônica
cego dos ouvidos
nariz, boca e demais sentidos.
cego de qualquer outro olhar.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

entrou no mar sem proteção
como se lhe tivessem dado a luz
entregue ao inesperado
daquela imensidão tamanha
que por vezes acalenta
e outras horas estranha
o corpo frouxo
vulnerável
miúdo
solto no ritmo das marés.
sem crer no impossível
aprendeu com os peixes a respirar debaixo d'água
e tantas outras coisas
que estão dispostos a ensinar
para qualquer um que deseja aprender.
ouviu as histórias das tartarugas
e quis semeá-las por toda parte.
as plantas despertaram seus sentidos
e se soube pronto pro mundo
pro inesperado
pra imensidão tamanha.

terça-feira, 15 de julho de 2014

09/06/2014

é bem ali naquele estreito
de difícil precisão
quando se passa duma estação à outra
que moram os tempos migratórios.
é nesse lugar que inexiste aos olhos mais atentos
puro movimento
que os pássaros alçam seus longos vôos.
é dali que vem o impulso
estremecedor.
mas não se voa sem estar pronto
pra se aprontar pelo caminho
tampouco se voa sozinho
de estremecer mesmo é ver o bando rasgando o céu.
baía de sensibilidade artesã
esculpe as pedras da praia da Boa Viagem
imensa e abstrata beleza
convida a imaginação dos passantes
um perfil masculino de duras feições e olhar distante
hipnotiza.
os olhos de pedra passeiam no horizonte
ao passo que se aquece ao sol, recebe a brisa.
seus pensamentos
por onde andarão?
decerto levando os meus pela mão ...


segunda-feira, 7 de julho de 2014

me deixe aqui na minha rede
só um pouco
um pouco só
quero descansar do mundo.
deixe eu me esticar um pouco
e esticar o tempo
que de uns tempos pra cá ficou curto
e pesado que só.
deu hoje no jornal que novas máquinas estão ajudando as pessoas a ganhar tempo.
quero é me perder no tempo
daquele disco bonito do Pixinguinha
das frações de conversas das minhas irmãs
do sabiá que me visita pela manhã.


quinta-feira, 17 de abril de 2014

sábado, 5 de abril de 2014

Copacabana

A primeira vista um ambiente hostil
que cerca de dejetos
concreto
repugnantes insetos
pessoas-objeto.

mas gente daqui é de outro jeito
vive a vida de pé no parapeito
da janela
nem sempre bela
entre a Avenida Atlântica e qualquer rua paralela
Nossa Senhora guarda os filhos teus
entre putas e ateus
e mulheres cujo sexo não foi Deus quem deu.

clima praiano em meio suburbano
chegando do norte, de caminhão
'aqui o sotaque do garçom não é o mesmo do patrão'
e sempre a brisa, a maresia
faz a cabeça
enquanto caminho pelas ruas antes que anoiteça.
noite clara
de uma cidade que não pára.

tropeçando pouco a pouco
pela praça
aquele velho e sua cachaça
loucura aqui não é desgraça
é ritual
cotidiano
só os loucos sobrevivem
em ambiente insano.

sexta-feira, 28 de março de 2014

o mundo é pesado, bro
quem é que aguenta
a tortura, a tormenta
a mão que senta
na cara
cheia de ódio
no trabalho ou no rolê
por que você?
vai na praia fazer o corre e ver o mar
vendo os playboy e as mina
de pouca roupa
marcando touca
cheio de grana na bolsa
e por que não?
nós aqui suado, sem nenhum tostão
querendo um tênis novo ou fumar um do bom
o primeiro chegou discreto
metendo a mão, passando reto
depois juntou dois, três, quatro
tanto preto assim, no Leblon, é assalto!
corre pro lado, pro outro
levanta areia
e gritaria
em pleno feriado, ao meio dia.
chegaram os hômi
a cabeça frita
os parcero some
a playboyzada grita
numa bandada
é derrubado, espancado, humilhado, assassinado
na praia ou na esquina
da Ataulfo de Paiva com Aristides Espinola.
os aplausos pra eficácia do PM que chega
tiro certeiro.
no dia da consciência negra,
mais um pouco de navio negreiro.


...


e a violência na favela não para!
no jornal, as notícias da senzala bem na nossa cara

Cláudia Ferreira
auxiliar de serviços gerais
famosa faxineira
depois de baleada por policiais
arrastada, metro por metro, no centro de Madureira

pendurada pela blusa...
caída do porta-malas da viatura
a barbárie à luz do dia, ninguém segura
a PM usa, abusa, da autoridade
pra banir o preto e o pobre dessa cidade.

chegou ao hospital, mas não resistiu
oito filhos sem mãe, puta que pariu.
é revoltante, chocante, não dá pra ficar parado
enquanto espera ser indenizado.

moradores de Congonha revoltados:
dois ônibus em chamas.
os PMs, soltos, essa noite dormem em suas camas.

o fogo se alastrou e rapidinho
chegou até a UPP de Manguinhos
o governo acelera o crescimento
e deixa o favelado sem nenhum sustento.

abandonados à própria sorte, fugindo da morte
de fome ou dos hômi
de bondão ocuparam o prédio.
remoção violenta gera revolta
debaixo de cassete
e surge toda a merda que não cabe mais no tapete.

segunda-feira, 17 de março de 2014

ideia para um conto

o hômi chegou risonho dizendo que teve uma ideia prum conto:

era tal que a menina tava com o diabo no corpo que não tinha quem desse jeito.

mas não era assim, modo de dizer, não! não era que tava assanhada,
solta por aí, era o diabo mermo! o próprio, de carne e osso! tinhoso, capeta, capiroto, o 'lá de baixo', sabe?

aí foram na igrejinha atrás do padre, pobre padre! logo ele que fugia dessas coisas como o diabo foge da cruz.

e fugiu.

disse que esse serviço não fazia não, que era complicado, o cagaço era tanto que nem se aguentava nas calças.

parece que tava de visita pelas bandas um dominicano. eu num entendo muito dessas coisas não, o hômi que sabe. parece que o tal do dominicano era das letras, dos estudos e era bom mermo em filosofá. 'garrou na ideia de que ia provar pro diabo (ele mermo, tinhoso, capeta, capiroto ...) que ele não existia.

achei doido! ideia doida mermo. mas o conto é do hômi, ele que vai dizer como termina. convencer o diabo de que ele não existe é fácil, quero ver é convencer esse mundão de gente. aí não tem pastor que aguente!


porque tenho palavras poucas
escrevo poesia.
por ideias que saem que saem roucas
poesia.
me falta talento para contos e conversas
por isso verso.
não domino lógicas complexas para ligar palavras
no entanto me pego perplexa
ao ver que voam com suas próprias asas.

terça-feira, 11 de março de 2014

(autoria: Francisco) Rap de Niterói

o som distrai e constrói, no fone speed distroi duas hora em pé parado na ponte rio niterói dói mói o corpo e abala a fé dos outro eu vejo na cara suada do cara estampada de desgosto vira o rosto pra baixo pra não olhar ninguém de frente mas aqui fica difícil ignorar o contingente aperta que tem mais 20 pra entrar no ponto pra nós sufoco, pros cara 200 conto a tia crente estava esmagada na roleta arrumando confusão com rockeiro de blusa preta o trocador até riu contagiando o busão até na treta viu fío? o povo vê diversão pegando o 998 no sentido galeão descendo na brasil, era o trampo na fundação coca-cola gelada, na vila do joão e um pf caprichado de arroz e feijão a cidade de concreto aterrada sobre o mar faz o sol bater mais forte do lado de lá aí que tá, só tem uma opção: é aguentá deixar pra lá e torcer pra esse calor não sufocá e pode preparar que a parada é no moinho os parça descem pro fonseca e eu sigo o meu caminho
para o ingá, antes do centro engrarrafá ouro passa, mas a nossa história vai ficar por onde for, cada passada que me levou até chegar nessa encruzilhada onde eu estou
eu lembro dela e dos cigarros na janela era só cao na professor lara vilela depois das três em frente ao clube português fininho de cadeia era a bola da vez na visconde de morais ouvindo racionais onde estou eu faço a minha casa e fico em paz e pra não dizer que a vida era só correria a noite tinha cantareira, confraria toca do osama, são dom dom de são domingos convés, praia vermelha, estado e são francisco mó risco, eu me arrisco, todo dia um precipício mas o BO é que pular virou um vício
para o ingá, antes do centro engrarrafá ouro passa, mas a nossa história vai ficar por onde for, cada passada que me levou até chegar nessa encruzilhada onde eu estou

quarta-feira, 5 de março de 2014

a cabeça

senhora de si
de troncos e membros
sustento

mas tem os dias nublados
em que não enxerga um palmo à frente do nariz.
vertigem.

a cabeça engana, trama.
às vezes contra os filhos seus.
abandona, pifa, cansa
sai em andança
sem dizer se volta ou não

adeus.



quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

por não saber de exato o início
o tamanho desse tempo é mistério.
pelo peso que faz acho que deve ser comprido o bastante
largura de elefante.
o pé arrastado, descalço
num passo em falso
foi fisgado na armadilha
aprisionado na engrenagem
que calcula o tempo exato
que seu braço fraco
leva pra fazer cem pares de sapato.
em outro tempo estava bem
descansado e com a família.
crocodilagem!
pura pilantragem!
cem pares de sapato não valem um quilo de dignidade.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

rap duzíndio na cidade

Saca esse índio maroto
todo escroto
jogado na praça

Olha esse índio malandro
com cara de santo
e fedendo a cachaça

Porque que não volta pro mato
o lugar exato de onde ele veio

E deixa a cidade pro branco
tirar seu sustento e fazer seu passeio

esse cara de cara achata e olho apertado incomoda bastante
talvez seja o peito de aço, a força no braço e a coragem errante.

resiste à miséria, ao racismo
e a toda essa treta de copa do mundo
consegue até rir da desgraça
mas não disfarça o desgosto profundo.

e sente saudade do mato, do rio
da casa, mulher e do tio
mas do mato de um tempo distante
porque o de hoje já está por um fio

no meio de soja e de boi
fica difícil uma vida decente
frente à ameaça constante
como garante
a vida dos parente?

ficar já não pode
voltar já não pode

por vezes bate a maraca
e canta sozinho canto ritual
pra lembrar das lições dos antigos
e tentar manter a sanidade mental

espera o tempo que corre
trampando no sol
de janeiro a janeiro

a poesia da luta diária
presente na vida de um grande guerreiro

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

girls just wanna have funk

ah fala sério, quem eu quero impressionar?
não quero fazer a fina, muito menos conquistar.
quero cerveja gelada
botar o gatinho pra suar

girls just wanna have funk ohhhh girls just wanna have funk!

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

o horror há de se transformar em poesia
a ansiedade, o problema, a cabeça pequena há de virar poema.
e quando acontece, espia.
espia que floresce a mais bela cena
brotando de todo caos uma florzinha de açucena.