o dia em que descobri a poesia
o dia em que descobri a poesia
não foi longo nem curto
não foi calma nem surto
não tinha 24 horas
ou demoras
ou esperas ansiosas.
o dia em que descobri a poesia
não lembro ao certo
se estava claro ou escuro
se era presente, passado ou futuro
se era solidão ou tumulto.
o dia em que descobri a poesia
fez sol em mim.
acolheu
esquentou
ardeu
e alumiou.
nasci e me pus em tons de laranja.
o dia em que descobri a poesia
fiz amigos
nas mesas de bares dos livros
conversamos sobre tantos temas
em ritmos de poemas
viajamos por universos inteiros
em versos passageiros
e sem formalidades
combinamos assim
hoje é por minha conta
amanhã cê paga pra mim.
o dia em que descobri a poesia
ganhou vida
e é regado no meu jardim
bem junto das margaridas.
sábado, 29 de novembro de 2014
é quase dezembro
o calor me lembra aquelas férias
me refugio nas marquises
escassas
enquanto meus passos
se perdem
a caminho da estação
por uma viela estreita
desemboco no teu corpo
nu da cabeça aos pés
na mais pura ligação com o tudo mais
percorro sem pressa
teus becos
teus recantos escondidos
paraísos e infernos
perdidos
o cheiro doce
a barba espessa
os olhos de um amor melancólico
meu peito colado no seu.
palpitamos em sintonia.
em princípio um forró acalorado
axé suado
até o gozo abafado
no travesseiro
termina valsa
de despedida
de fim de festa
acabando de súbito
em embriaguez desmedida
com a doçura da seresta.
recordo em detalhes
o conforto dos teus braços
ao redor de mim.
adormeço acordada.
somos quentura gostosa
somos noite de verão
mas a dor evapora
quando o tempo é quente
e à certa hora
como já se sabe
não escapamos
da força da torrente.
meus olhos inundados
embaçados
não tenho mais volta.
o corpo cansado
envelhecido
sem sentido
sento no meio fio
e choro
choro
choro sem parar
deságuo nas curvas de um rio
que ainda não sei navegar.
o calor me lembra aquelas férias
me refugio nas marquises
escassas
enquanto meus passos
se perdem
a caminho da estação
por uma viela estreita
desemboco no teu corpo
nu da cabeça aos pés
na mais pura ligação com o tudo mais
percorro sem pressa
teus becos
teus recantos escondidos
paraísos e infernos
perdidos
o cheiro doce
a barba espessa
os olhos de um amor melancólico
meu peito colado no seu.
palpitamos em sintonia.
em princípio um forró acalorado
axé suado
até o gozo abafado
no travesseiro
termina valsa
de despedida
de fim de festa
acabando de súbito
em embriaguez desmedida
com a doçura da seresta.
recordo em detalhes
o conforto dos teus braços
ao redor de mim.
adormeço acordada.
somos quentura gostosa
somos noite de verão
mas a dor evapora
quando o tempo é quente
e à certa hora
como já se sabe
não escapamos
da força da torrente.
meus olhos inundados
embaçados
não tenho mais volta.
o corpo cansado
envelhecido
sem sentido
sento no meio fio
e choro
choro
choro sem parar
deságuo nas curvas de um rio
que ainda não sei navegar.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Dia de trabalho
Exatos 60 minutos
Jacaré-Ipanema
Jacaré-Ipanema
Mangueira
Leopoldina
Providência
Tabajaras
Praia de Ipanema
Vinícius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto
Dum bairro que de preto
Só o vidro dos carros importados
O garçom
O segurança
E o menino magro
Pernas de caniço
Que mora em qualquer calçada
E cujo único sentimento que desperta é medo.
Leopoldina
Providência
Tabajaras
Praia de Ipanema
Vinícius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto
Dum bairro que de preto
Só o vidro dos carros importados
O garçom
O segurança
E o menino magro
Pernas de caniço
Que mora em qualquer calçada
E cujo único sentimento que desperta é medo.
Prendam aqueles
De dentes ainda de leite
Antes que se tornem
Marginais definitivos
E venham de caninos e incisivos
Pra cima de nossas propriedades,
De nossa liberdade de expressão
de ódio
racial.
De dentes ainda de leite
Antes que se tornem
Marginais definitivos
E venham de caninos e incisivos
Pra cima de nossas propriedades,
De nossa liberdade de expressão
de ódio
racial.
Vamos mantê-los invisíveis
Enquanto limpam nossas privadas
Servem nossa comida
Criam nossos filhos.
Enquanto limpam nossas privadas
Servem nossa comida
Criam nossos filhos.
Sorriam, insolentes,
Mostrem os dentes!
E agradeçam o presente,
a escravidão,
Que nós, solidários e cristãos,
Oferecemos de coração.
Mostrem os dentes!
E agradeçam o presente,
a escravidão,
Que nós, solidários e cristãos,
Oferecemos de coração.
Mudei-me
prum lugar mais amplo
arejado
Arejei-me.
prum lugar mais amplo
arejado
Arejei-me.
Sem espaço nos caixotes
a vida deixou as frestas
desfila
agora
rastejante
pelo chão da sala de estar.
a vida deixou as frestas
desfila
agora
rastejante
pelo chão da sala de estar.
Faz fila com suas companheiras na cozinha
Canta na janela
E até mesmo a mosca
com seus estigmas
passeia nessa rima.
Canta na janela
E até mesmo a mosca
com seus estigmas
passeia nessa rima.
A vida não incomoda
mais
convivemos bem.
mais
convivemos bem.
Itinerante
pelos seres miúdos
aparece pra mim
como convém.
pelos seres miúdos
aparece pra mim
como convém.
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