quarta-feira, 2 de novembro de 2011

passo o ponto

Nunca tinha pensado em vender livros. Acho que de tanto viver para eles, acabou por viver deles também. Era com os livros que matava sua fome, do estômago e da fantasia.
Agora eles estavam ali, bem na sua frente, espalhados pelo chão da rua entre os passos dos transeuntes. Não eram mais seus, mas não conseguia afastar-se deles assim tão bruscamente. Como uma mãe que abandona um filho por não ter condições de criá-lo, se acomodou em um canto da lanchonete ao lado e ficou a olhá-los de longe. Algumas pessoas paravam, remexiam um pouco, duvidavam do que viam. Não estavam acostumadas a poder levar livros para casa sem ter que pagar por eles. Que maldição o dinheiro!
Por tanto tempo tivera aquele espaço para vendê-los e nunca as pessoas haviam se interessado tanto pela grande coleção que tinha reunido ali. Existia uma barreira toda construída em cédulas e moedas das mais diversas cores e tamanhos que impediam os possíveis leitores de entrarem em uma outra dimensão, onde era possível encontrar respostas para muitas questões ou simplesmente perder-se nelas. Era com um misto de felicidade e melancolia que assistia aquele espetáculo mórbido. Podia passar o dia todo ali, mas tempo é dinheiro (novamente ele)! No dia seguinte, desviou seu caminho para visitar de longe seus livros novamente, mas ao chegar tudo que viu foi uma calçada vazia e a imensa e incômoda placa: passo o ponto.

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