quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

apesar de me perder
não me pergunte como cheguei.
um sussurro
um assobio
um arrepio
um vendaval.
fui levada pela corrente da chuva que se abatia sobre a vizinhança.
as crianças dançavam, cantavam
enchiam suas cumbucas.
suas vovós chegavam na janela
arrumavam os vasinhos de flor para que recebessem um pouco d'água
e elas mesmas,
flores em sua essência,
deixavam que o vento úmido refrescasse o rosto.
um sorriso tranquilo observava os netos
e a cabeça lá bem longe,
em visita aos dias de festa no sertão.
a festa da chuva, celebração da vida!
tão difícil
mas vista de agora assim
com olhos de saudade
aparecia até bem florida.
a vida
uma bonita flor de cactos.
as folhas das árvores e seus espelhos orvalhados
o agito dos pássaros
torre de babel de cantos.
era um dia esperado, confuso
um dia fora do tempo.
a chuva fez mais que refrescar esse dia ...
mexeu mesmo com a alma.
teve perna bamba
cabeça nos ares
braços pro alto
e pés
bem fincados na terra
se assentando no barro.
fui escorrendo
lamacenta
pelos passeios já inundados
passei por estradas
inusitadas
encantadas
riachões
a mata é um universo
de caboclos camuflados
a comunhão dos seres
extingue suas fronteiras
são os orixás
as forças mesmas da natureza.

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