sábado, 6 de agosto de 2011

de olhos fechados

as mãos passam pelo corpo,
acariciam o rosto com carinho,
compartilham-se abraços,
os olhos sempre fechados.
materialmente não falta nada.
está tudo ali, mas os olhos insistem em continuar fechados.
para tudo existir tem que ser assim: cego.
se os olhos da verdade tão difícil de ver se abrem
para onde você foi? tudo desmorona.
e mãos não passam de dedos
e abraços não passam de braços entrelaçados como numa luta contra a realidade.
mais difícil do que estar só é não estar contigo.
não dá mais. você não vai mais voltar a ocupar o espaço que deixou e ninguém consegue preenchê-lo.
a doença é crônica, mas não terminal.
pode-se viver a vida toda com ela e apenas em alguns momentos lembrar de sua existência.
ainda estou na fase um: a descoberta. ainda sofro com o impacto da percepção de que tenho um buraco enorme no peito e que terei que conviver com ele para sempre. dessa forma, penso nele frequentemente.
não tem cura, mas o tratamento pode ajudar a reduzir consideravelmente seu tamanho.
uma boa dose de tempo para começar.

2 comentários:

  1. "abre os olhos" - diz ele.
    se soubesse o quanto é difícil.
    pelo visto incomoda não só a mim.

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  2. "abre os olhos" - diz ele.
    se soubesse o quanto é difícil.
    pelo visto incomoda não só a mim.

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