sexta-feira, 28 de março de 2014

o mundo é pesado, bro
quem é que aguenta
a tortura, a tormenta
a mão que senta
na cara
cheia de ódio
no trabalho ou no rolê
por que você?
vai na praia fazer o corre e ver o mar
vendo os playboy e as mina
de pouca roupa
marcando touca
cheio de grana na bolsa
e por que não?
nós aqui suado, sem nenhum tostão
querendo um tênis novo ou fumar um do bom
o primeiro chegou discreto
metendo a mão, passando reto
depois juntou dois, três, quatro
tanto preto assim, no Leblon, é assalto!
corre pro lado, pro outro
levanta areia
e gritaria
em pleno feriado, ao meio dia.
chegaram os hômi
a cabeça frita
os parcero some
a playboyzada grita
numa bandada
é derrubado, espancado, humilhado, assassinado
na praia ou na esquina
da Ataulfo de Paiva com Aristides Espinola.
os aplausos pra eficácia do PM que chega
tiro certeiro.
no dia da consciência negra,
mais um pouco de navio negreiro.


...


e a violência na favela não para!
no jornal, as notícias da senzala bem na nossa cara

Cláudia Ferreira
auxiliar de serviços gerais
famosa faxineira
depois de baleada por policiais
arrastada, metro por metro, no centro de Madureira

pendurada pela blusa...
caída do porta-malas da viatura
a barbárie à luz do dia, ninguém segura
a PM usa, abusa, da autoridade
pra banir o preto e o pobre dessa cidade.

chegou ao hospital, mas não resistiu
oito filhos sem mãe, puta que pariu.
é revoltante, chocante, não dá pra ficar parado
enquanto espera ser indenizado.

moradores de Congonha revoltados:
dois ônibus em chamas.
os PMs, soltos, essa noite dormem em suas camas.

o fogo se alastrou e rapidinho
chegou até a UPP de Manguinhos
o governo acelera o crescimento
e deixa o favelado sem nenhum sustento.

abandonados à própria sorte, fugindo da morte
de fome ou dos hômi
de bondão ocuparam o prédio.
remoção violenta gera revolta
debaixo de cassete
e surge toda a merda que não cabe mais no tapete.

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